A palavra “hipnose” pode ser associada ao sobrenatural, a truques e vigaristas, mas a hipnose real é uma ferramenta clínica frequentemente utilizada pelos psiquiatras. Agora, cientistas estão começando a ter uma ideia de como ela afeta o cérebro.
Cerca de dois terços das pessoas mostram alguma susceptibilidade à hipnose, e a técnica tem sido usada para tratar dor e ansiedade, entre outras condições.
Um grupo de pesquisadores da Escola de Medicina de Stanford usou imagens cerebrais para ver o que realmente acontecia com as pessoas durante a hipnose. A equipe reuniu 57 pessoas, algumas das quais foram altamente suscetíveis ao transe hipnótico, e outras simplesmente não conseguiram ser hipnotizadas.
Os participantes foram colocados em máquinas de imagens cerebrais, e os pesquisadores aplicaram diversos grupos de instruções – dois grupos foram induzidos à hipnose e aos outros dois foram dadas outras instruções.
As imagens capturaram as regiões do cérebro que estiveram mais ativas e mais adormecidas durante a hipnose. A equipe identificou mudanças em três regiões nos pacientes hipnotizados.
Eles viram diminuição da atividade do cíngulo anterior dorsal, uma região conhecida por ser muito importante para a avaliação de contextos, que ajuda a decidir com o que se preocupar e o que ignorar. Reduzir essa atividade mostra que pessoas hipnotizadas são capazes de suspender a capacidade de julgamento e de mergulhar em algo, sem pensar no que mais eles poderiam ou deveriam estar fazendo.
A segunda mudança apareceu em algumas partes do cérebro que dão às pessoas a capacidade de separar os pensamentos na mente dos sentimentos no corpo.
As pessoas em hipnose “conseguem visualizar algo que os estressa, mas ainda conseguem imaginar seus corpos flutuando, sentindo-se confortáveis”, relata David Spiegel, autor do estudo e professor de psiquiatria de Stanford, em uma entrevista com a CNBC. “Então, quando você pensa sobre algo, você pode controlar melhor como seu corpo responde a esse pensamento”.
A terceira região afetada está localizada bem no fundo do cérebro e envolve a autoconsciência. “As pessoas que entram em hipnose tendem a não ser inseguras, e, portanto, conseguem fazer coisas que normalmente não fariam”, disse Spiegel. “Isso tem potencial terapêutico. Você consegue fazer com que as pessoas reorganizem a forma como reagem aos problemas e passem a abordá-los de um ponto de vista diferente”. Parte superior do formulário
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A equipe publicou suas conclusões na quinta-feira, na revista Córtex Cerebral.
Spiegel espera que a investigação impulsione o uso da hipnose como uma técnica clínica.
“Isso mostra que a hipnose não é um truque de salão ou um show de mágica,” disse Spiegel à CNBC. “É um fenômeno neurobiológico.”
Ele acrescenta que a hipnose é subutilizada em cuidados de saúde e que ela pode ser uma alternativa viável ao uso de analgésicos, que provaram ser viciantes para milhões de pessoas.
“Acho que isso ilustra a realidade da hipnose como um fenômeno e mostra que ela não é uma forma de perder o controle, como muita gente receia. É uma forma de ensinar as pessoas a aumentar o controle sobre os seus corpos e cérebros.”